Ontem foi um dia difícil para mim… Difícil, porque a única voz que conseguia ouvir dentro de mim era de interrogação: “O que é que estou a fazer mal?”.
Os anos de 2009 e 2010 foram anos pautados pela evolução rápida interna o que também significa: cair e levantar, atravessar densidades emocionais e mentais perante circunstâncias desorientadoras, muitas lágrimas e momentos de estar perdida, sem direcção. Ontem, as circunstâncias do dia não me levaram ao desespero, mas à constante interrogação: “mas, afinal, o que falta compreender que não estou? Não estou a seguir o caminho do Amor? Então, porquê a Abundância que sei estar aqui para mim, não se manifesta?”.
Muitas vezes, neste caminho que, um dia, decidi encetar, questionei-me se seria capaz de continuar a percorrê-lo. A verdade é que aperta cada vez mais, estreita até quase não conseguir andar…o que me faz continuar apesar de tudo? Soube sempre e sei que, se quisesse, poderia escolher parar e ir pelo outro, bem mais fácil, e sei que conseguiria obter o que me trouxesse segurança financeira e integração social…a um preço, claro. Sei-o, porque nasci com uma capacidade empática que me permite saber o que os outros precisam ou esperam de mim e isso fez com que, em todos os projectos em que me encontrei, mesmo quando não era essa a minha intenção, destacava-me, recebia incentivos, recebia convites, recebia condições e facilidades que outros, trabalhando afincadamente, não obtinham. Não tinha paixão por nenhuma tarefa ou área em particular e, ainda assim, dava frutos concretos e promissores.
Talvez, por isso, a luta entre a minha cabeça e o meu coração tenha sido tão aguerrida. A argumentação do intelecto é, de facto, tentadora: “estás aí nesse tal caminho do Amor e da Luz, onde tudo é difícil e suas para perceber o que é suposto fazeres! Só recebes desafios, lutas e contrariedades e tudo em nome de quê? De um Amor que nem vês, só sentes? Que grande Amor esse que permite que estejas presa a uma vida de dificuldades em que só há uma forma de agir que pode trazer-te resultados concretos. Um Amor que te pede sacrifícios materiais, sacrifícios emocionais, sacrifícios de reconhecimento e em nome de quê? De um Deus, um Amor, uma Luz que te impele à evolução sacrificando tudo o resto? Pega naquilo com que nasceste, no QI que te permite escolher a área que quiseres, na capacidade com que foste agraciada e usa-os para o teu proveito, ganha dinheiro, goza-o ao máximo, rodeia-te de pessoas que te admirem pelo teu sucesso. Não vês como tens tudo numa bandeja e estás a recusar?” .
Situação sacana! As tentações foram tantas que hoje já me rio quando, às vezes, ainda me assaltam!
Ontem foi um desses dias! A tentação de uma solução rápida e eficaz perante um problema que desafia a minha confiança…e o meu coração diz-me: “Então, foi tudo em vão? Vais desistir agora depois de tudo o que percorreste, depois de todas as compreensões que alcançaste, depois de teres sentido, finalmente, que a Paz e o Amor são possíveis para ti?”.
O que é que me mantém neste caminho? É que, para mim, não há outro!
Houve um tempo em que tentei, por tudo, encaixar-me num papel que desenharam para mim e eu aceitei; integrar-me num sistema de crenças e fórmulas que não me estimulavam e, claro, tentei por tudo acreditar que esta vida que me mostravam era tudo o que eu poderia esperar viver e a única coisa que me faltava descobrir era a maneira de gostar, amar e desejar essa vida. No dia em que me questionei de onde vinham essas noções de vida, papéis, futuros, sucessos e senti que não tinham originado em mim, tudo mudou. Soube-o, porque se ao contemplá-las só me transmitiam desolação, como podia ter sido eu a criá-las?
Assim, hoje, sei que o que me mantém firme aqui é a experiência da vida em beleza, em constante admiração e surpresa. É poder respirar fundo, meditar e sentir, nem que seja por dois segundos, a extraordinária sensação de Paz, o incomparável sentir do Amor Incondicional e a transformadora presença de mim em unicidade com o Todo. Não há nada mais real que viver assim, e, por isso, tenho Fé que, um dia, conseguirei mais segundos deste sentir e hei-de expandi-los cada vez mais. Acredito que viver este Amor e partilhá-lo é o meu propósito de vida aqui e que todas as actividades, trabalhos, locais ou projectos que escolher estarão impregnados desta consciência.
Ontem, no meio da tempestade, vi-me do outro lado das ondas, numa praia lá ao longe, a sorrir e a acenar de volta, encorajando-me a continuar.
Sabendo o que sei, como posso continuar neste caminho? A pergunta, na verdade, é esta: Sabendo o que sei, como poderia não estar?
Com Amor,
Sofia
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