segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A Criação Visível e a Criação Invisível

Quando criamos algo, seja um desenho, seja um texto, seja um receita de cozinha, seja uma peça de decoração, estamos perante aquilo a que eu chamo de criação visível. A criação visível são todas aquelas manifestações que partem da nossa criatividade, podem ter energia positiva ou dissonante consoante a nossa intenção ou “estado de espírito” no processo da criação. E, quando essa criação está ligada ao nosso rendimento financeiro ou ao nosso rendimento da Alma, (aquelas actividades que não podemos deixar de fazer por serem a realização de nós próprios), queremos “criar” a toda a hora!
Criar visivelmente, pois a manifestação do que temos dentro, naquele momento, é a maior satisfação para nós e, muitas das vezes, sentimos como se tivesse sido um bom uso do nosso tempo, uma vez que os outros poderão ver aquilo que criámos. Especialmente, quando temos pouco tempo, no nosso dia, para essas actividades, queremos usar o tempo que nos resta para criar.

E, quando, por alguma razão, não conseguimos criar, passamos o tempo a pensar nisso. Os dias passam, a inspiração não vem, ideias nem vê-las e a criação começa a assemelhar-se àquele oásis que sabemos poder alcançar, mas que, nesses momentos, não passa de miragem.
Assim, começamos a elaborar o porquê da inspiração não vir, o porquê de estarmos naquele vazio de ideias, apesar da vontade interior de criar. Estaremos cansados? Com demasiadas responsabilidades? Deveremos meditar mais, conciliar mais, sair mais, variar mais? E, enquanto nos mantivermos nesta terra de frustração, as únicas plantas que irão crescer, no nosso jardim, servirão apenas para aumentar a vegetação à volta dos nossos tornozelos. Rapidamente, teremos heras entrelaçadas nas pernas e continuamos a perguntar-nos porque razão nos sentimos paralisados…

O que não conseguimos compreender, nesses momentos, é que a paralisia que sentimos está relacionada com a criação visível. Queremos que as nossas ideias interiores tenham expressão externa e, quando esta não é possível, entramos em frustração. Esquecemo-nos de que existe a criação invisível que nasce da natureza infinita da nossa Alma e que é tão rica quanto todos os matizes de cor de que somos feitos. Antes de haver criação visível, ocorre a criação invisível.
E, quando paralisamos nessa manifestação externa, é porque deixámos de estar no momento presente, deixámos de nos concentrar em nós “aqui” para nos concentrarmos em nós “ali”. Se nos sentimos frustrados no momento presente é, simplesmente, porque não conseguimos aceitar que aquele momento não é de criação visível, mas sim momento de aceitar o silêncio e a paragem em nós e permitirmo-nos receber tudo aquilo que aquele momento tem para nos dar.
Abstrairmo-nos dos resultados e abrirmo-nos ao Todo, mesmo que, nesse processo, os únicos a darem-se conta da profundidade e criatividade da nossa Alma, somos nós. Não precisamos de estar, constantemente, a provar ao mundo de que somos capazes de criações maravilhosas e profundas. Não precisamos de nos preocupar com o sermos capazes ou não dessas criações. Precisamos de deixar de precisar de fazer seja o que for a não ser: estar no momento presente e abrir os braços para receber o que ele tem para nós!

Quando, no meio das nossas tarefas, vamos, por momentos, à varanda e, sem querer, somos tomados pela beleza do céu, é ficarmos a beber aquela comunhão. Largar as preocupações do: eu devia estar a fazer isto ou a aproveitar aquilo e, simplesmente, estar! Todos os momentos em que conseguimos estar, plenamente, no presente, ficam gravados em nós. Nesses momentos, nós estamos no processo da criação invisível que irá, irremediavelmente, desembocar na criação visível!

E a criação visível são, também, as nossas atitudes, comportamentos e gestos que podem ser vistos por outros. Mas, toda ela começa a partir da criação invisível. Assim, a forma como encaras esses momentos de aparente paragem ou silêncio "inútil" da não-acção, lembra-te que são as gravações desses momentos que irão determinar as tuas criações que todos poderão ver! Em todos os segundos da tua vida, estás a criar, mesmo que não o consigas ver. É como aquela pergunta: se uma árvore cair no meio de uma floresta e ninguém vir, será que caiu mesmo? E, assim sendo, quantas árvores não cairão, em todo o mundo, sem que ninguém se dê conta? E, assim sendo, quantas ideias e inspirações não ocorrem na tua floresta interior, sem que tu te dês conta?

E a verdade é: é irrelevante se é visível para ti ou para os outros, a criação não precisa deste reconhecimento para acontecer, é inevitável, somos Seres de criação quer queiramos quer não. Assim, reflecte sobre a forma como estás a viver os teus momentos de criação invisível e, talvez, tenhas aí algumas respostas para o porquê do estado da tua vida no que diz respeito aos teus relacionamentos, à tua carreira, às oportunidades que surgem, à forma como o teu corpo se sente durante o dia, como olhas para ti e para os outros e quais os teus valores…sem críticas e com muito Amor e Compaixão por ti!

E, lembra-te que tu és Criação e tens livre-arbítrio que te permite escolher de que forma vais criar: com um sorriso ou… de sobrolho carregado? ;)

Com Amor,
Sofia

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