domingo, 9 de janeiro de 2011

A Expressão de Nós

A nossa expressão e a expressão de nós são duas coisas distintas.

A nossa expressão tem um atributo intelectual  e são aqueles comportamentos, maneirismos, a nossa “forma de ser” que é também o conjunto de tudo o que aprendemos (e apreendemos) ao crescer… a nossa expressão expressa-se, inclusivé, na  caligrafia com que escrevemos.
Pegando neste último exemplo, eu tive a caligrafia que aprendi na escola primária até aos meus 12 anos e gostava muito daquelas voltas e contravoltas das letras “à antiga”…mas depois, comecei a reparar que já ninguém utilizava aquela caligrafia, à minha volta, as pessoas estavam a mudar, a evoluir, algumas até a inventar novas formas de escrever as letras que tinham aprendido…e eu senti-me compelida a fazer o mesmo…quer dizer, não ia ficar retida no passado, certo? No entanto, por mais que me esforçasse, não só não me decidia em que caligrafia me basear como não encontrava nenhuma forma de mudar a caligrafia, que considerava tão bonita, para uma que estivesse à sua altura. Assim, fiz o que qualquer pessoa em crescimento a aprender o que é ser adulto faria perante a sua falta de criatividade e desenvoltura: plágio. Mas, tal como qualquer pessoa em crescimento a aprender como os adultos fazem, queria encontrar a caligrafia perfeita para plagiar, eis as características que enumerei para o propósito: tinha que ser moderna; tinha que não só ser aceite mas também elogiada pelos demais; tinha que ser relativamente simples para eu não ter muito trabalho a aprendê-la; tinha que ter o potencial para perdurar no tempo, pois eu não ia ter 12 anos para sempre e tinha que ter uma aura profissional, prática, mas “on edge”. Felizmente, todas estas características estavam reunidas na caligrafia da minha colega de carteira o que me resolveu o problema seguinte: que o plagiado não se importasse de ser plagiado e, como, na altura, essa minha colega era a “tal melhor amiga”, até ficou feliz por eu a imitar.

E assim, a minha caligrafia mudou para sempre…mas nunca me esqueci da primeira caligrafia que gostava tanto e anos mais tarde até me arrependi da escolha que fiz, mas como achei que era tarde, a minha caligrafia de hoje tem um pouco das duas…e eu consigo relacionar toda esta história com tantas outras na minha vida que, reunidas, formam aquilo a que eu chamo: a minha expressão. E esta minha expressão, ao longo dos anos, tornou-se tão independente da minha vontade que até faz escolhas por mim ao mesmo tempo que me faz acreditar que sou eu que as faço. Um pouco como aquela piada no filme “O meu Casamento Grego” em que a mãe perante a filha chorosa por estar entalada numa família de valores tradicionais em que o pai é quem manda e não a deixa viver como quer, que o homem pode ser a cabeça da família, mas a mulher é o pescoço: pode virar a cabeça na direcção que deseja. E, neste cenário, eu sou o homem, mas a minha expressão é o pescoço. Assim, apesar de ver como continuo a repetir as mesmas situações, cenários, reacções, discursos, formas de pensamento, etc…passa a noite, vem a manhã, gira o disco e toca o mesmo…ou toca? Afinal, depois de olhar em volta e ver o disco na constante repetição em que me tinha tornado, comecei a pensar no que aconteceria se tentasse levantar a agulha e pará-lo de vez…que descobriria então?
E é nessa viagem que me encontro nestes últimos anos: relembrar quem sou e expressar isso mesmo. Largar a minha expressão para passar à expressão de mim. E, nesta expressão de mim, descobri que, afinal, até prefiro a caligrafia “à antiga” e que, afinal, as sensações que tinha em criança em relação ao mundo eram mais verdadeiras e reais que a loucura do mundo adulto que aprendi depois.

É bom expressar o que temos dentro, mesmo quando não temos a certeza da direcção que vamos tomar a seguir! :)

Com Amor,

Sofia

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